Comunicación
El destino del diario
Lourival Sant'Anna, uno de los periodistas más prestigiosos de Brasil por sus reportajes para O Estado de S. Paulo desde hace casi veinte años, acaba de publicar un libro: O Destino do Jornal (Sao Paulo: Grupo Editorial Record, 2008).
En sus casi 300 páginas, analiza los casos de los tres principales periódicos brasileños -A Folha de S. Paulo, O Globo y O Estado de S. Paulo- para hacer una reflexión general sobre los retos de la prensa en este siglo marcado por la digitalización y la fragmentación de las audiencias.
En 2004, Lourival Sant'Anna me hizo una entrevista que ahora se recoge en las páginas de este libro. Hace mucho tiempo que mantuvimos aquella conversación pero, leídas hoy, me siguen pareciendo válidas mis reflexiones de entonces. Aquí va un pequeño extracto:
O que vai acontecer com o jornal de papel?
Isso deveria importar relativamente pouco para as empresas de comunicação. A questão é muito importante para o segmento do papel e celulose, para quem o mercado dos jornais é prioritário. O mercado das empresas informativas não é o mercado do papel, é o mercado da informação.
Mas quando se vai para on-line, não muda muita coisa?
Estamos vivendo um processo de mudança nas audiências. Os jovens não estão acostumados a ler jornais de papel. Isso não significa que não estejam acostumados ou interessados na informação. São coisas distintas.
Mas estão interessados em ler?
Eu diria que há diferentes tipos de jovens. Na Espanha, estamos detectando um certo tipo de jovem que está muito interessado em aspectos lúdicos, no ócio, mas que também tem interesses especializados, como a tecnologia, a música, aspectos que talvez não sejam a informação em geral, mas em torno dos quais se estão desenvolvendo cadeias de informação muito especializadas. Isso está criando um hábito de consumo de informação. Queremos pensar que, na medida em que esses jovens vão adquirindo certa maturidade, esses hábitos de informação não vão se limitar unicamente ao lúdico, mas abrangerão temas que afetam nossa sociedade.
Quando um meio se torna online, exige-se dele que seja interativo, que haja uma participação ativa dos leitores na formulação de conteúdo. Aí começam as mudanças para um veículo acostumado a assumir a responsabilidade sobre o que publica?
Há uma dificuldade por parte dos meios de comunicação e dos jornalistas em particular em se acomodar a um novo entorno no qual as audiências têm a possibilidade não só de responder, mas de falar entre si a propósito do que nós lhe informamos. Isso gera processos de movimento informativo que até agora não existiam ou que pelo menos não se tornavam públicos. A forma de modernizar os meios de comunicação virá em boa medida condicionada pelo modo de interpretar a interatividade. Aspectos como a hipertextualidade ou a multimidialidade são linhas lingüísticas com as quais já se trabalha há bastante tempo. O jornal de papel, por exemplo, é um tipo de documento até certo ponto hipertextual, porque temos um texto principal que se conecta com outros textos, com fotos e gráficos. Do ponto de vista dos jornalistas, esse conceito já foi assumido. A multimidialidade – o fato de combinar sons com imagens e eventualmente com textos – também tem sido desenvolvida pela televisão. Mas a interatividade, ou seja, incorporar o leitor ao discurso jornalístico, é algo radicalmente novo, e é a isso que os meios digitais estão conferindo um protagonismo. De certa maneira, esse impacto já está chegando aos meios impressos, ao rádio e à televisão. Os impressos já empregam sondagens com os leitores, abrem a possibilidade de os leitores proporem temas para debates, enfim, estamos assistindo aos primeiros passos, mas terminará mudando o discurso jornalístico que conhecemos há séculos.
Com o fim do jornalista como emissor único de informações e com essa participação 'caótica' de muita gente, como fica a questão da credibilidade e da responsabilidade sobre a veracidade da informação?
Os veículos de comunicação continuam sendo necessários. Há muita gente que proclama de maneira apocalíptica que os meios já não têm nenhuma missão na sociedade atual. Eles têm. E sua missão é a interpretação, hierarquização e seleção da informação realmente relevante.
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